quarta-feira, 21 de abril de 2010

A obra

LIVRO DO DESASSOSSEGO



               “A nossa vida não tinha dentro. Éramos fora e outros. Desconhecíamos-nos, como se houvéssemos aparecido às nossas almas depois de uma viagem através de sonhos...”

                                                   Trecho de “Na Floresta do Alheamento
                                                                       Bernardo Soares

Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa) é um caminhante de si mesmo, percorre a sua vida assistindo com a inteligência do olhar, mas alheio ao sentir emocionado. Em Bernardo Soares, Pessoa revela a sua faceta itinerante pela vida, tão estranho de si como dos outros, desdobrando-se entre determinantes psicossomáticas que o obrigam a continuar a viver o dia-a-dia e a acuidade da sua inteligência especifica e particularmente cerebral, tornando-se um espectador de si e do mundo, como se fosse um espelho que reflete, simultaneamente, o seu eu para os outros e o mundo. No Livro do Desassossego, Pessoa afirma a sua falsa identidade e abstrai-se dos sentimentos, reconhecendo, paradoxalmente, a sua natureza paroxisticamente romântica. Ele próprio escreve que não quer sentir e amar porque sabe de antemão a decepção que o espera, consciente de não poder possuir, mas só assistir, num mundo em que a distância entre o seu eu intrínseco e o seu eu exterior é a mesma da que o separa da realidade envolvente. Através de Bernardo Soares, percebe-se claramente a estranheza de si inerente ao universo de Pessoa.

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