domingo, 30 de maio de 2010

BRANCO, a Não-Cor.



“No fundo, o branco, que é muitas vezes considerado uma não-cor, sobretudo depois dos impressionistas, “que não vêem branco na natureza”, é como símbolo de um mundo onde todas as cores, enquanto propriedades de substâncias materiais, se dissiparam. Esse mundo paira tão acima de nós que nenhum som nos chega dele. Dele cai um silêncio que se alastra para o infinito como uma fria muralha, intransponível, inabalável. O branco age em nossa alma como o silêncio absoluto. Ressoa interiormente como uma ausência de som, cujo equivalente pode ser, na música, a pausa, esse silêncio que apenas interrompe o desenvolvimento de uma frase, sem lhe assinalar o acabamento definitivo. Esse silencio não é morto, ele transborda de possibilidades vivas. O Branco soa como uma pausa que subitamente poderia ser compreendida. É um “nada” repleto de alegria juvenil ou, melhor dizendo, um “nada” antes de todo nascimento, antes de todo começo. Talvez assim tenha ressonado a terra, branca e fria, nos dias da época glacial.”



Comentário do pintor Wassily Kandinsky extraído do livro Do Espiritual na Arte (1910)

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