domingo, 16 de maio de 2010

ISTO NÃO É UMA PEÇA

*Isto não é um cachimbo.

     " 'Fernando Pessoa não existe, propriamente falando.' Quem nos disse foi Álvaro de Campos, um dos personagens inventados por Pessoa para lhe poupar o esforço e o incômodo de viver. E para lhe poupar o esforço de organizar e publicar o que há de mais rico na sua prosa, Pessoa inventou o Livro do Desassossego, que nunca existiu, propriamente falando, e que nunca poderá existir. O que temos aqui não é um livro mas a sua subversão e negação, o livro em potência, o livro em plena ruína, o livro-sonho, o livro-desespero, o antilivro, além de qualquer literatura. O que temos nestas páginas é o gênio de Pessoa no seu auge."

Quem diz isto é Richard Zenith, organizador do Livro do Desassossego, logo no início da introdução do livro. Faço a relação entre o "cachimbo que não é cachimbo" de Margritte e o conceito de Zenith a respeito do "livro não-livro" de Pessoa porque estas idéias também aparecem no processo de montagem do espetáculo. Questões a respeito do próprio ato de representar surgem e você se depara com um processo novo de construção. Durante o processo de criação, experimentação, pesquisa e investigação do espetáculo, a cena nos aparece como um presente contínuo, estendido, intercedidos pelas sensações que emergem da comunhão dos elementos do espetáculo, dando a idéia de um ciclo que não se acaba, sem início, nem meio, nem fim. Uma paisagem que se observa. Uma "não-peça".


 Alex Maciel.

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