quinta-feira, 20 de maio de 2010

SENSAÇÕES E A RAZÃO EM NA FLORESTA DO ALHEAMENTO



(...) Assim, o drama Na Floresta do Alheamento desvela, em seu monólogo introspectivo, em que o interlocutor parece ser o próprio pensamento, as perspectivas e as hipóteses da alma revestidas em versos e sentimentos, deixando transparecer a intenção básica do processo poético de Fernando Pessoa, que é consumar a alquimia do verbo ou, ainda, transubstanciar, intuída pelas sensações, a palavra, a verdade do real.

O texto é, então, um monólogo, que não sabemos se é instituído por voz ou pensamento.
Um turbilhão de versos apresenta as meditações, as indagações, ao mesmo tempo em que descrevem o ambiente da floresta  o fomento das reflexões. O eu-lírico, em um dado momento da trama, anuncia uma suposta personagem. Tal personagem é uma ilusão de pessoa humana, fortalecendo o processo de simbiose que, a todo instante, se instaura.

Por ser um monólogo, não constatamos a presença de entradas especificando ações, ambiente ou outro elemento característico da teatrografia, ou até mesmo a definição de personagem.
Esta pode, por suas reflexões, indagações e afirmações, configurar-se dentro de qualquer aspecto, por estar destituída de forma que a defina. Não se consegue, assim, caracterizar a personagem em sua forma física, contudo não representa de maneira alguma o coletivo. Caracteriza-se, sim, o indivíduo, por sua extrema subjetividade.

Um dado instigante em Na Floresta do Alheamento é haver na estrutura do texto a predominância de verbos no pretérito imperfeito e infinitivo, o que acentua ainda mais a idéia de que nada é perfeito, acabado, tudo parece um vir-a-ser, na medida em que são as sensações que regem a trama.


(...)



Artigo publicado por Jussara Bittencourt de Sá,
Professora do Curso de Letras e membro do Grupo de Pesquisa em Estética e Semiótica do Curso de Mestrado em Ciências da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina. Doutoranda em Teoria Literária na Universidade Federal de Santa Catarina.


link para o artigo completo:

http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0302/7%20art%205%20P.pdf

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